quarta-feira, 8 de abril de 2009

MEU AMIGO LUIZ MÁRCIO

Há uns 20 anos atrás. eu era o Presidente da Ogilvy Direct, a agência de marketing direto do Grupo Ogilvy & Mather Worldwide no Brasil. Um belo dia, entra em minha sala e fecha a porta, Flavio Correa ( mais conhecido no mundo publicitário como Faveco ), que era o Presidente no Brasil do Grupo e, comandante supremo das nossas agências de propapaganda, promoção, relações públicas e marketing direto.

Faveco, sentou-se na minha frente e, como bom gaúcho de 4 costados, disse-me : " Preciso que tu me faças um favor ". Contou-me então que havia trazido há 3 meses atrás para a Standard São Paulo ( a agência de propaganda da Ogilvy ), da Standard de Porto Alegre, um menino que ele achava que tinha um grande futuro na publicidade. Chamava-se Luiz Márcio Ribeiro Caldas Junior. Mas, continuou Faveco : " O menino, não muito acostumado com a grande metrópole, está dando alguns problemas e eu preciso resolve-los imediatamente, porque não quero mandá-lo de volta para Porto Alegre . Gostaria de transferi-lo para a Direct e que você cuidasse dele. ".

Foi assim que fiquei conhecendo o tal de Luiz Márcio Ribeiro Caldas Junior. Culto, inteligentíssimo, carismático, excelente redator, mas sobretudo, uma boa pinta tipo " novela das 8 da Globo " que quebrava corações nos 5 andares da Ogilvy na Faria Lima.

Na primeira reunião que tive com Luiz Márcio deixei bem claro como iam ser as regras do jogo : vestimenta, horários, compromissos com o trabalho, tratamento de clientes, tratamento com colegas de trabalho e namoricos dentro da empresa. Disse a ele em bom guachez : " Se tu riscares fora do caderno, voltas na hora para Porto Alegre. ".

Acho que ele deve ter gostado de mim e me achado uma espécie de pai. O fato é que nunca tive qualquer problema com ele e fizemos uma série de trabalhos juntos com muito sucesso. Além disso, criamos uma grande amizade pessoal que perdura até hoje. Luiz Márcio saiu da Ogilvy e foi para o Grupo Accor, onde por muitos anos foi o braço direito do presidente do grupo.

Há uns vinte dias atrás, conversando com ele pelo telefone, ele contou-me de um diagnóstico de saúde que havia tido e que seria operado na semana seguinte. Logicamente, fiquei muito abalado com a notícia e acompanhei de perto o desenrolar do quadro, que felizmente está sob controle.

Hoje recebi um e-mail do Luiz Márcio, que ele mandou aos seus amigos que é uma das coisas mais bonitas que ja vi. Obviamente, chorei. Vejam abaixo.
A CASA DA GENTE É O MELHOR LUGAR QUE EXISTE

A experiência de ver o mundo a partir do ponto de vista do homem preso ao leito hospitalar é um ensinamento em cada detalhe: o ambiente, seus ruídos durante o dia, seus barulhos noturnos, as pessoas que trabalham de dia, as que trabalham à noite.

Os gritos abafados de dor, o som do vômito, a morte que passa para levar o paciente do quarto ao lado numa madrugada de agitação no corredor. O relacionamento com as enfermeiras, com os auxiliares no entra e sai com seringas de remédio, caixinhas de comprimidos e medições cotidianas daquilo que não se quer perder: os sinais vitais...
De repente, uma, duas, várias caras amigas chegavam para visitas rápidas e alegrias prolongadas, vozes amigas se multiplicam em telefonemas e em mensagens de celular, num fluxo quase inadministrável.

A notícia correu rápido por um fio fininho, mas muito resistente, que não teme tesoura, e teceu uma teia em que cada ponto de encontro era uma pessoa amiga, uma fonte de luz, que torcia, que orava, que pensava positivo, que fazia figas. O bordado delicado e leve tornou-se um grande tecido suspenso no ar com muitos, muitos, pontos de luz.

Perceber esse lindo rendado de amigos, feito de luz de benquerer e desinteresse, foi mais ou tão importante quanto a recolocação do tubo na parada respiratória, ou os remédios ministrados na hora certa. Agora o caminho da recuperação, a segunda etapa do tratamento e o restabelecer de uma nova rotina.

Neste momento, não quero apenas agradecer seu carinho. Quero também – e principalmente – reconhecer sua presença nesta linda teia de luz e força, amorosa e benéfica, que eu vi se formar.
Muito obrigado!

P.S.: essa história tem um fio condutor e tem nome: Edi. Sua dedicação e força, seu jeito incansável de lutar e não se conformar, seu destemor em ultrapassar limites, sua habilidade de se dividir em três, às vezes em cinco, para dar conta de cada frente de batalha, de colocar em prática coisas importantes que, às vezes, ficam a voar sobre nossas cabeças, foi o que fez, mais essa vez, que tudo fosse feito bem e com a rapidez que a situação recomendava. Essa vitória é, sobretudo, dela, a quem sou imensa e comovidamente agradecido.

Um comentário:

Luiz Márcio Ribeiro Caldas Junior disse...

Zecarlos é homem que sabe onde as corujas moram. E com ele aprendi muito. Tive essa sorte de conviver, observar, tentar pretenciosamente imitar. É um homem inteligente, de visão alongada e apurada, sensível e um incansável fazedor do diferente. Zecarlos é admirável e continuo com a sorte de tê-lo dentro do peito, como amigo querido.